sábado, 4 de dezembro de 2010

Desespero silencioso

"A chuva caía num pranto ruidoso, num ritmo violento que massacrava a sua roupa, ensopada até aos ossos, preenchidos por um frio cortante que pouco tinha a ver com a chuva que caía.
Era, para si, difícil compreender o sentido da traição e do desamparo que sentia, constantemente iludida por devaneios criados pela sua cabeça. A dificuldade em aceitar o que seria inaceitável transformava-se num grito de angústia cortante, mas silencioso, de tal forma que ele já estava inscrito na sua pele e no seu ser.
Como seria possível aceitar que o chão desaparecera por baixo dos seus pés, degrau atrás de degrau, grão de areia atrás de grão de areia, como poderia ter tudo desaparecido de forma tão rápida e inesperada?
Seria a angústia tão grande a ponto de perder a capacidade de vomitar qualquer palavra que fosse, deixá-la-ia tão desesperada a ponto de não conseguir soltar um único som, talvez com medo de perder algo que, depois de tudo, não poderia continuar existir?Será que alguma vez existira?"

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