sábado, 3 de abril de 2010

A Religião

Ontem, 6ª feira Santa, participei na procissão da Via Sacra realizada em Carcavelos.

Sendo eu uma fã absoluta de tradições e pequenas aldeias, não resisti a participar na Procissão por a querer observar enquanto festa, não propriamente do ponto de vista religioso mas sim para conhecer as festas da vila em que vivo.

Em primeiro lugar, adorei participar. Adorei pelo simples facto de sentir que partencia a algo maior que eu. No fundo, a igreja é algo que nos transcende, algo que nos abraça e envolve num contexto, nos fornece mais uma identidade social, uma nova casa, uma nova força - algo maior que nós, um todo maior que as partes.
Compreendi o porquê de muitas pessoas, por vezes idosas e solitárias, se refugiarem na missa e nas Igrejas. Sentirmos que pertencemos a algo que nos transcende é fascinante, desperta mistério e faz-nos sentir bem. Senti-me dessa forma ao participar na Procissão - no meio de desconhecidos, mas todos unidos por algo maior que nós, algo que nos transcendia.

Por outro lado, há muitos anos que me desliguei da Igreja, que não ia à missa.
Acho que ontem, ao fim de muitos anos, senti vontade de acompanhar os restantes fiéis no Pai Nosso (que confesso, já não me recordava de alguns versos).

E, contudo, senti que a religião católica não me faz sentido algum. Para mim, Deus existe, mas não com todas as cerimónias e cláusulas que a igreja católica cria. Para mim essa existência é livre, longe de orações pré-definidas, de castigos para pecados, de busca pela vida eterna... esse discurso não é meu e não quero vesti-lo.
A Marisa, editora de um livro sobre silêncio, disse que Deus existia, apenas preferia chamar-lhe silêncio. Talvez ela esteja certa. Talvez Deus seja um silêncio e paz que nos rodeia, um conforto que podemos encontrar nas nossas linhas de existência, um canto dentro de nós onde podemos encontrar protecção.
Deixem-me em paz com histórias de céu e inferno, de castigos para pecados, de rituais que não me fazem sentido.
Deus tem que ser simples, tem que ser amor, tem que ser moralidade. Não pode ser toda a imoralidade que tem invadido a Igreja Católica nos últimos dias.
Creio que o resto não passa de rituais que me impressionam e assustam e que nenhum sentido me fazem. Nem me falem em deuses que nos dizem para nos matarmos por religiões, para criarmos guerras e vítimas em nome da religião.
Deus tem que ser interior. Deus, para mim, é paz...

A Evolução da nossa Sociedade

Há muito tempo que não escrevo, mas estou inspirada para escrever sobre alguns temas que me têm perturbado nos últimos dias.
Uma delas é sobre a Sociedade, outra é sobre religião. Talvez comece por vos falar na Sociedade, pois a religião é um tema mais profundo.
Hoje, sendo o aniversário da minha tia, tal como em todos os jantares de anos vieram à baila os temas do antigamente - a vida do antigamente, os costumes, as personagens que invadiam as ruas e a sociedade há cerca de meio século atrás.
A possibilidade de deixar um borrego pendurado numa quinta um dia inteiro sem ninguém o roubar. A venda de cântaros de água porta a porta, os amola-tesouras que ainda hoje sobrevivem nalguns sítios, as vendas na praia, pequenos comerciantes que sobreviviam sem problemas naquela época e que hoje estão mortos.
A questão é - porque é que morreram? Podemos levar isto a termos literais - morreram literalmente sem deixar descendência para semelhantes trabalhos. Ou será que a evolução da Sociedade os matou?
Porque será que quanto mais evoluída é a sociedade a nível científico, o desenvolvimento do crime, da corrupção e do abandono dos valores morais aumenta paralelamente?
Como será que, daqui a muitos, muitos anos, irão caracterizar a sociedade do séc. XXI nas aulas de história? Uma sociedade marcada por grandes avanços científicos, por uma evolução louca e desenfreada dos conhecimentos, por uma explosão de formação académica e empregos (que levou, posteriormente, ao desemprego devido à substituição do homem pela máquina - que engraçado - o homem que trabalhou para a evolução ser substituído pela máquina que criou em prol da dita evolução).
Tenho dificuldade em descentrar-me, pois para mim esta época será eterna. Mas depois recordo os meus queridos anos 90 e reconheço inúmeras diferenças entre esses dias e os dias actuais. Sinto pena de não ter irmãos nem ter crescido com pessoas da minha idade que me fossem muito próximas, para com 70 anos poder partilhar os dias de hoje com essas pessoas.
É inevitável não pensar nos efeitos que a Internet teve na história da Humanidade. Será que o acesso desenfreado e em massa à Internet mudou para sempre os comportamentos? Será que contribuiu para a evolução da Sociedade no sentido da loucura corrupta?
Já o alcóol e as drogas, os vícios dos jovens de hoje em dia, já antigamente existiam e não se cometiam tantos excessos. Creio que isso se deve À educação. Tudo é uma teia interligada. Com o desenvolvimento da oferta de trabalho e emancipação das mulheres, os papeis mudaram. A educação dos filhos é descurada em prol do trabalho. As crianças crescem fazendo tudo o que querem, sem lhes poderem tocar para não ficarem traumatizadas. Os pais têm pena dos filhos rufias, coitadinhos, que não crianças traumatizadas e merecem mimos e protecção. E a sociedade evoluiu no sentido dos "espertos", dos que passam por cima dos outros sem qualquer leveza, delicadeza, sem saberem o que é educação, cavalheirismo, "espertos" instruídos mas muito piores do que muitos analfabetos que receberam educação em casa antigamente.
Tudo isto me revolve as entranhas. Revolta-me o sentido em que a sociedade evolui e questiono-me como será esta época vista no futuro. Será que estaremos pior? Será que conseguiremos evoluir para algo melhor, nem que fosse apenas ligeiramente melhor? Será que isso chega?
Será que teremos planeta onde evoluir, depois de desgastarmos a Terra de forma tão insensível?
A única conclusão que encontro, o único padrão que vejo é que quanto mais a sociedade evolui cientificamente, mais a imoralidade nos invadirá e chegaremos a um ponto em que nem todo o conhecimento científico do mundo será suficiente para re-aprendermos os "comportamentos para o bem da espécie". O nosso bem-estar próprio será sempre posto acima de tudo e a morte será inevitável - em todos os sentidos.